quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O PARADOXO DO WIKILEAKS CRIA IMPASSE NO JORNALISMO

Em julho deste ano escrevi sobre os possíveis impactos que o WIKILEAKS poderia gerar na forma como o conteúdo jornalístico é criado.
Era parte de uma análise para o livro "MÍDIAS E NEGÓCIOS", onde estudava as formas de geração de conteúdo colaborativo e sua remuneração.
Nem em sonho poderia imaginar que o impacto do WIKILEAKS atingisse este patamar no final de 2010!
Sem juízo de valor sobre o processo de obtenção dos conteúdos pelo WIKILEAKS, é inegável o impacto nas formas de obtenção de informação primária relevante.
O conselho editorial da TIME já decidiu dar o título de personalidade do ano a JULIEN ASSENGE.
Os sistemas hierárquicos - baseados em doutrinas de cadeia e comando - foram abalados com algo que se transforma organicamente e é rizomático (Recomendo a leitura sobre o conceito de rizoma)

Já mostramos no livro MÍDIAS E NEGÓCIOS que o comportamento em rede é antagônico ao comportamento hierárquico.
Empresas, organizações e escolas que trabalham baseados unicamente na lógica COMANDO-CONTROLE não conseguem entender a dimensão do fenômeno WIKILEAKS. Ao não ter a compreensão do que é o WIKILEAKS, tentam destruí-lo com medidas de força, o que só aumenta seu poder (a rede se fortalece quando atacada).

Prender o Julien Assenge é querer acabar com uma rede destruindo um de seus Nodos. A rede encontra outro caminho...
Novamente usam conceitos hierárquicos para impedir uma ação em rede. Não entenderam nada
.
Cabeças do século 19 tentando direcionar jovens do séc. 21. Não dá liga.
Vejam a reação de lugares mais inusitados no vídeo abaixo (em chinês e legendas em inglês --> admirável mundo em rede)


De qualquer forma várias questões estão no ar:

1) Como seria um WIKILEAKS brasileiro recebido pela mídia?
2) Como um jornalista deve analisar a informação liberada?
3) Analisar o WikiLeaks do ponto de vista da dinâmica das redes sociais e da sua interação com as organizações hierárquicas. É um fenômeno novo e exige outra abordagem?;
4) Quais condições permitiram que WikiLeaks - um pequeno grupo de amadores, colocar de joelhos sistemas de poder em todo o mundo?
5) O WikiLeaks é centralizado?
6) Por qual razão o WIKILEAKS priorizou seu relacionamento com a mídia tradicional? (É paradoxal: um fenômeno digital fazer sua divulgação em sistemas tradicionais?)
7) O que explica a enorme solidariedade que WikiLeaks despertou no mundo?

Ainda estou tentando entender a dimensão do que é o WIKILEAKS.
Continuo estudando, aprendendo e criando hipóteses sobre o tema.
Afinal um dos conceitos do comportamento em Rede é não ter certezas e SIM dúvidas que a própria rede pode responder.

Prof Ramiro Gonçalez - FIA
Inteligência de mercado e mídia
@ramirogoncalez -> http://que-midia-e-essa.blogspot.com/
ramirogon@uol.com.br
Autor: Mídias e Negócios e QUE CRISE É ESSA?

Um comentário:

  1. Cristina Moreno do NOVO EM FOLHA: " Gostei do paradoxo que vc aponta em uma das perguntas: realmente, o Wikileaks só ganhou força porque encontrou espaço nas mídias tradicionais para divulgar suas informações. Porque houve jornalistas que leram os documentos e o editaram e hierarquizaram e complementaram e repercutiram e mastigaram para os leitores, como em qualquer notícia. O Assange foi genial justamente ao perceber que, sozinho, não alçaria voos tão altos, porque ninguém tem muito saco de sair lendo 2.500 telegramas, só jornalista mesmo. E por ter procurado reforço junto às mídias tradicionais, que, ao verem que a origem do material era verdadeira, não hesitaram em explodir a bomba. bjs Cris"

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